Nota - Élly -
Uma tragédia ceifou a
vida de mais uma de nós - mulheres da Universidade de Brasília- nesse dia 04 de
junho, de 2018. Élly partiu para desacompanhar-se da dor de sua existência. Que
ela tenha encontrado descanso e paz e que sua família, sua irmã querida e amig@s
de todas as cores que cativou em sua breve passagem por esse pedaço de
existência, chamado de vida, possam ter conforto para seguir, amando as coisas
que ela amava e lutando juntas. É muito triste, nesse momento ter que dizer que
a partida trágica da Élly não foi a primeira, e certamente não será a última,
caso a administração universitária não se sensibilizar a implementar políticas
mais efetivas de combate, seja a violência, seja as situações de
vulnerabilidades emocionais e psíquicas que povoam a existência de estudantes,
frente as situações de desesperança em que estamos vivendo. Importante falar
que essa é uma questão para além da Universidade, mas que a mesma parece
agravar a situação. Momento de crise, falta de amparo e acolhimento, exigências
acadêmicas para além da capacidade humana. A Instituição e o seu corpo lidam
com isso de uma forma acadêmica e é preciso considerar a humanidade. Para além
disso, desconstruir esse tabu que se tornou a questão do suicídio e de saúde
mental de uma forma geral. Precisamos ouvir, primeiramente, para depois entendermos.
Pensamos que é hora de a Universidade, nos seus conselhos superiores, assumir
propositivamente uma política de combate a todas as expressividades de
violências – de gênero, raciais, sexuais, regionais, socioeconômicas,
religiosos, entre outras-, que se fazem presentes juntos aos três segmentos
femininos que a constituem. É hora também de se indignar com os acontecimentos
cotidianos trágicos e irreversíveis, que tem atingido majoritariamente as
mulheres, na sanha da misoginia e que estimulam as desigualdades exacerbas, as
relações de poder e os conservadorismos espúrios. Para nós, mulheres da UnB, a
morte de Louise - vítima de feminicídio em 2016, só retirou o véu do cotidiano
que nos oprime nas salas de aula, laboratórios, secretarias, corredores e
outros espaços de convivência. Esta realidade tem custado a vida de muitas de
nós, tem nos adoecido, nos humilhado, nos desvalorizado e traz, para algumas de
nós, consequências que levam a querer desistir de viver e de lutar. Hoje
choramos a partida de Élly, já choramos a de Louise, quantas ainda faltam para
que medidas sejam tomadas? A violência sexista, lesbofóbica e racista vem
pautando nosso cotidiano universitário e a mais triste observação é de que em
décadas passadas, a violência vinha de fora do campus. Hoje ela está entre nós,
na nossa sociabilidade diária, visível e sem vergonha de manifestar-se.
Pesquisas e estudos sobre os riscos e os custos (materiais e emocionais) das
expressividades de violência, como as que vem sendo realizadas pelo NEPeM -
Núcleo de Estudos e de Pesquisa sobre a Mulher, nas últimas décadas, tem
sistematicamente alertado, mas esses ‘alertas’ têm encontrado ouvidos mocos.
Recentemente, dentro da própria UnB, dois grupos de trabalho foram criados, o
Coletivo AFETADAS e Grupo FEMIVIDA, por iniciativa das estudantes, muitas delas
eram companheiras de Élly - e de algumas professoras. Nestes espaços as
próprias estudantes reivindicavam a realização de pesquisas empíricas para
subsidiar suas demandas, uma vez que as denúncias que faziam nem sempre eram
credíveis. Élly, amiga, companheira, colega, estudante, filha, presente! Que
sejas melhor acolhida para onde vais, que encontres a paz e a alegria que esta
breve existência não te possibilitou!
Nenhuma a menos! Basta! ÉLLY PRESENTE!
Coletivo Afetadas
Grupo Femivida
Laboratório Genposs
NEPeM/CEAM/UnB
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