Segue a nota de repúdio do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Mulheres (NEPEM), da UnB. O GCCrim adere integralmente à manifestação.
"O Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Mulheres (NEPeM), da Universidade de Brasília (UnB), vem a público manifestar total repúdio aos trotes destinados às calouras da Faculdade de Agronomia e Veterinária (FAV), que foram motivo de denúncia recente à Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM). Trata-se de práticas vulgares, vexatórias, desrespeitosas e humilhantes, a que as alunas foram submetidas. Além disso, não dizem respeito apenas às pessoas que delas participaram, uma vez que a violência simbólica nelas presentes é sexista ao disseminar a idéia patriarcal sobre quem são as mulheres em geral e sobre o seu lugar na sociedade. Ou seja, a mensagem veiculada nessas ações associa fortemente as mulheres a objetos sexuais e destina-lhes um espaço desvalorizado em ambiente em que as capacidades cognitivas, não os atributos corporais, são prestigiadas. As regras de convivência na UnB devem ser pautadas pela ruptura com padrões sexistas e discriminatórios vigentes na sociedade mais ampla, exatamente por se esperar, nesse meio, o desenvolvimento de um pensamento crítico em relação ao senso comum e que, portanto, oriente a instauração de novas ações. Diante disso, o NEPeM soma-se as vozes da comunidade universitária e demais instituições para demandar explicações sobre os acontecimentos, bem como formas efetivas de coibição e prevenção de futuros trotes dessa natureza."
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
domingo, 30 de janeiro de 2011
Heleieth Saffioti, presente
No dia 26 de janeiro, o Grupo Candango de Criminologia promoveu a Mesa de Debates "Heleieth Saffioti, presente", em homenagem à Heleieth Saffioti, Professora aposentada da Unesp/Araraquara e da PUC-SP.Compuseram a mesa as Professoras Ela Wiecko (FD/UnB), Lourdes Bandeira (Sociologia/UnB) e Lia Zanotta (Antropologia/UnB).
A Professora Ela iniciou a exposição, traçando um perfil da Professora Heleieth, que nasceu na cidade de Ibirá (SP), em 1934; formou-se em Ciências Sociais, na Universidade de São Paulo (USP), em 1960. Casou-se com um químico, Valdemar Saffioti, e desenvolveu suas atividades e pesquisas na cidade de Araraquara (SP). Valdemar faleceu em 1999 e Heleieth, então, doou o sítio em que viviam ("Chácara Sapucaia"), no qual foi criado um centro cultural. Uma curiosidade é que, nesta chácara, Mario de Andrade escreveu o célebre "Macunaíma", em 1928.
A obra de Heleieth Saffioti se tornou importantíssima para o movimento feminista brasileiro. Saffioti sustentava que o uso de conceito de gênero servia como forma de encobrimento de desigualdades entre homens e mulheres. O conceito de gênero escondia esta contraposição entre homens e mulheres, da dominação masculina.
Heleieth Saffioti recebeu diversos prêmios, dentre os quais "Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz" (2002), Florestan Fernandes (2003) e foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz (2005), no Projeto "Mil Mulheres". Em 2006, travou uma discussão sobre a descriminalização do aborto com o Procurador Cícero Horada. Foi demitida da PUC-SP pouco depois deste episódio.
A Professora Lourdes Bandeira, que conviveu bastante com Heleieth Saffioti, iniciou sua exposição contando que teve seu primeiro contato com suas obras e ideias em 1973, em um curso de Saffioti na UFRGS. O primeiro livro de Saffioti, "A mulher na sociedade de classes: mito e realidade" foi publicado em 1969, 20 anos depois de Simone de Beauvoir publicar "O Segundo Sexo". Saffioti teve acesso à versão em francês desta obra fundamental para o feminismo. A Professora Lourdes Bandeira ressalta este ponto, pois, nos anos 1970, o acesso a obras vanguardistas era muito difícil.
Pioneira, Saffioti criou o primeiro grupo de estudos sobre mulheres e gênero, em 1978. Saffioti estudava a divisão sexual do trabalho - os homens realizavam trabalho produtivo na esfera pública, com grande visibilidade, enquanto as mulheres ocupavam espaços de trabalho na esfera privada, sem nenhuma visibilidade. Começou a trabalhar, assim, as questões de gênero sob esta perspectiva do trabalho, pois, à época, não havia qualquer espaço para pesquisas sobre gênero. Para Saffioti, o movimento feminista e a luta de classes precisavam andar juntos.
Em 1989, cria, na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), o Grupo de Trabalho "Mulheres e Trabalho".
Saffioti foi a precursora da "teoria do nó", em que entendia que as categorias de classe social, gênero e etnia/raça se entrelaçam, gerando conflitos advindos do sistema patriarcal, produzindo uma sociedade com diferenças causadoras de múltiplas desigualdades. Assim, a dinâmica de cada categoria social se condiciona à uma nova realidade, presidida por uma lógica contraditória, que não pode ser analisada individualmente. Saffioti estuda, principalmente, o caso das trabalhadoras domésticas.
Saffioti contribuiu muito para o debate sobre a violência contra as mulheres, cobrando políticas públicas do Estado para combatê-la. Um termo muito utilizado em suas obras é "dominação-exploração". Saffioti entendia que dominação não seria maior do que exploração, ambas são importantes para produzir, na sociedade patriarcal, uma mulher restrita, oprimida, com muitas condições de sofrer violência.
Para conhecer um pouco mais da obra de Heleieth Saffioti, veja:
Cadernos Pagu - Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?isbn=8572443193&sid=21415224713130446202910425
http://mulherespaz.org.br/site/
Principais obras:
1. SAFFIOTI, H. I. B. . Gênero, patriarcado, violência. 1. ed. SÃO PAULO: EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 2004. v. 1. 151 p.
2.SAFFIOTI, H. I. B. ; ALMEIDA, S. S. . Violência de Gênero: Poder e Impotência. Rio de Janeiro: Revinter, 1995. v. 1. 217 p.
3. SAFFIOTI, H. I. B. ; MUNOZ-VARGAS, M. . Mulher Brasileira É Assim. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1994. 283 p.
4. SAFFIOTI, H. I. B. . O Poder do Macho. São Paulo: Moderna, 1987. 120 p.
5. SAFFIOTI, H. I. B. . Mulher Brasileira: Opressão e Exploração. Rio de Janeiro: Achiamé, 1984. 129 p.
6. SAFFIOTI, H. I. B. . O Fardo das Trabalhadoras Rurais. Araraquara: Instituto de Letras, Ciências Sociais e Educação - UNESP, 1983.
7. SAFFIOTI, H. I. B. . Do Artesanal ao Industrial: A Exploração da Mulher. São Paulo: Hucitec, 1981. 184 p.
8. SAFFIOTI, H. I. B. . Emprego Doméstico e Capitalismo II. Rio de Janeiro: Avenir, 1979. v. 55.
9. SAFFIOTI, H. I. B. . Emprego Doméstico e Capitalismo. Petrópolis: Vozes, 1978. 197 p.
10. SAFFIOTI, H. I. B. . Profissionalização Feminina: Professoras Primárias e Operárias. Araraquara: , 1969.
11. SAFFIOTI, H. I. B. . A Mulher na Sociedade de Classes: Mito e Realidade. Petrópolis: Vozes, 1969. 403 p.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Mesa Redonda: "Heleieth Saffioti, presente"
O Grupo Candango de Criminologia - GCCrim, convida para a Mesa Redonda
HELEIETH SAFFIOTI, PRESENTE
Em homenagem a Heleieth Saffioti, baluarte do feminismo brasileiro, militante, socióloga e pesquisadora pioneira na introdução no Brasil dos estudos de gênero e estudos sobre a mulher, que nos deixou em 12 de dezembro de 2010.
DEBATEDORAS:
Profa. Dra. Lourdes Bandeira
Departamento de Sociologia, UnB
Profa. Dra. Lia Zanotta
Departamento de Antropologia, UnB
Profa. Dra. Ela Wiecko (coord.)
Faculdade de Direito, UnB
Data: 26 de janeiro de 2011, às 19h
Local: Auditório Joaquim Nabuco – FA
HELEIETH SAFFIOTI, PRESENTE
Em homenagem a Heleieth Saffioti, baluarte do feminismo brasileiro, militante, socióloga e pesquisadora pioneira na introdução no Brasil dos estudos de gênero e estudos sobre a mulher, que nos deixou em 12 de dezembro de 2010.
DEBATEDORAS:
Profa. Dra. Lourdes Bandeira
Departamento de Sociologia, UnB
Profa. Dra. Lia Zanotta
Departamento de Antropologia, UnB
Profa. Dra. Ela Wiecko (coord.)
Faculdade de Direito, UnB
Data: 26 de janeiro de 2011, às 19h
Local: Auditório Joaquim Nabuco – FA
domingo, 16 de janeiro de 2011
Resultado da seleção - Advogados Voluntários - Projeto de Atendimento a Mulheres em Situação de Violência Doméstica
Caros/as,
Gostaríamos de agradecer imensamente a colaboração de todos/as para a divulgação do edital de seleção de advogados/as voluntários/as de nosso projeto de extensão para o atendimento a mulheres em situação de violência doméstica, da Universidade de Brasília - UnB.
Estamos muito satisfeitas com o resultado e, ao tempo em que socializamos com todos/as os nomes dos selecionados para as quatro vagas, aproveitamos para dar-lhes as boas vindas ao nosso grupo.
Atenciosamente,
Profa. Ela Wiecko
Profa. Soraia Mendes
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE DIREITO
PROJETO DE EXTENSÃO
ATENDIMENTO DE MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
GRUPO CANDANGO DE CRIMINOLOGIA - GCCRIM
SELECIONADOS PARA ADVOGADOS/AS VOLUNTÁRIOS 01/2011
André Luiz Pereira de Oliveira
Adilson José Paulo Barbosa
Julio Cesar Donisete Santos de Souza
Maria Terezinha Nunes
Profa. Ela Wiecko V. de Castilho
Coordenadora
Profa. Soraia da Rosa Mendes
Supervisora
Gostaríamos de agradecer imensamente a colaboração de todos/as para a divulgação do edital de seleção de advogados/as voluntários/as de nosso projeto de extensão para o atendimento a mulheres em situação de violência doméstica, da Universidade de Brasília - UnB.
Estamos muito satisfeitas com o resultado e, ao tempo em que socializamos com todos/as os nomes dos selecionados para as quatro vagas, aproveitamos para dar-lhes as boas vindas ao nosso grupo.
Atenciosamente,
Profa. Ela Wiecko
Profa. Soraia Mendes
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE DIREITO
PROJETO DE EXTENSÃO
ATENDIMENTO DE MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
GRUPO CANDANGO DE CRIMINOLOGIA - GCCRIM
SELECIONADOS PARA ADVOGADOS/AS VOLUNTÁRIOS 01/2011
André Luiz Pereira de Oliveira
Adilson José Paulo Barbosa
Julio Cesar Donisete Santos de Souza
Maria Terezinha Nunes
Profa. Ela Wiecko V. de Castilho
Coordenadora
Profa. Soraia da Rosa Mendes
Supervisora
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
2011 - Novas pautas?
Ano novo, vida nova. Novo Governo Federal, com uma mulher na Presidência da República, novas equipes nos Ministérios, novas demandas e políticas públicas. Comecemos discutindo as recentes declarações do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre a discussão pública da descriminalização das drogas. Para isto, segue um texto da socióloga Julita Lengruber, publicado no jornal "O Globo" de 09.11.2011:
Mudança de rota
Julita Lemgruber*
O novo ministro da Justiça começa bem, trazendo a responsabilidade sobre a questão das drogas para o Ministério da Justiça e tendo a coragem de afirmar que a sociedade brasileira precisa aprofundar a discussão sobre a liberação das drogas. Há muito ainda a fazer até que a questão das drogas seja encarada como problema de saúde pública e não de justiça criminal, mas podemos estar iniciando uma caminhada que poderá desaguar nessa transformação.
A José Eduardo Cardozo deve-se o mérito de perceber, neste momento, a importância de submeter a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) à sua autoridade e, mais ainda, de ter escolhido Pedro Abromovay, um civil, para conduzí-la. Aliás, a indicação de Regina Miki para a Secretaria Nacional de Segurança Pública é outra escolha que tem merecido o aplauso dos especialistas.
Não se podia mais admitir que continuasse a equivocada estratégia dos governos Fernando Henrique e Lula de manter a Senad fora da órbita do Ministério da Justiça, sob a liderança de generais, que jamais estimularam a discussão sobre o tema das drogas no Brasil.
Precisamos ter a coragem de enfrentar um diálogo honesto sobre esse tema, lembrando o que disse Robert Sweet, juiz federal norteamericano, membro fundador do Leap (Law Enforcement Against Prohibition) em entrevista a O Globo (25/01/2009). Para Sweet, que defende a legalização do uso e da distribuição de todas as drogas, a chamada guerra às drogas constituiu-se, ao longo de mais de três décadas, num monumental fracasso que consome, em média, mais de 20 bilhões de dólares por ano nos Estados Unidos e cujo resultado foi tornar as drogas naquele país mais baratas, mais puros e mais acessíveis, não contribuindo, portanto, para reduzir o consumo.
Com base nessa constatação, Sweet e seus colegas da Leap, têm insistido na necessidade de tratar o uso das drogas que hoje são ilícitas exatamente como se trata – melhor dizendo, como se deveria tratar – o uso de álcool e tabaco: campanhas públicas de esclarecimento e dissuasão; tributação pesada; proibição de venda a menores de idade; limitação dos horários e locais de consumo (como no caso dos cigarros); programas e recursos para tratamento de dependentes; penalização rigorosa dos que, sob efeito de drogas, causem danos a terceiras pessoas.
Acreditar que o problema se resolve endurecendo a legislação contra o tráfico, gastando grande parte do trabalho policial na “caça” ao varejo das drogas e enchendo as cadeias de jovens “aviões”, como ocorre atualmente, é outro equívoco da sociedade brasileira que precisa ser urgentemente revisto.
*Julita Lemgruber é socióloga e coordenadora do CESeC/Ucam
O GCCrim convoca a todos para esta discussão. Como deve ser encaminhada a questão da descriminalização das drogas, no Governo Dilma?
Mudança de rota
Julita Lemgruber*
O novo ministro da Justiça começa bem, trazendo a responsabilidade sobre a questão das drogas para o Ministério da Justiça e tendo a coragem de afirmar que a sociedade brasileira precisa aprofundar a discussão sobre a liberação das drogas. Há muito ainda a fazer até que a questão das drogas seja encarada como problema de saúde pública e não de justiça criminal, mas podemos estar iniciando uma caminhada que poderá desaguar nessa transformação.
A José Eduardo Cardozo deve-se o mérito de perceber, neste momento, a importância de submeter a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) à sua autoridade e, mais ainda, de ter escolhido Pedro Abromovay, um civil, para conduzí-la. Aliás, a indicação de Regina Miki para a Secretaria Nacional de Segurança Pública é outra escolha que tem merecido o aplauso dos especialistas.
Não se podia mais admitir que continuasse a equivocada estratégia dos governos Fernando Henrique e Lula de manter a Senad fora da órbita do Ministério da Justiça, sob a liderança de generais, que jamais estimularam a discussão sobre o tema das drogas no Brasil.
Precisamos ter a coragem de enfrentar um diálogo honesto sobre esse tema, lembrando o que disse Robert Sweet, juiz federal norteamericano, membro fundador do Leap (Law Enforcement Against Prohibition) em entrevista a O Globo (25/01/2009). Para Sweet, que defende a legalização do uso e da distribuição de todas as drogas, a chamada guerra às drogas constituiu-se, ao longo de mais de três décadas, num monumental fracasso que consome, em média, mais de 20 bilhões de dólares por ano nos Estados Unidos e cujo resultado foi tornar as drogas naquele país mais baratas, mais puros e mais acessíveis, não contribuindo, portanto, para reduzir o consumo.
Com base nessa constatação, Sweet e seus colegas da Leap, têm insistido na necessidade de tratar o uso das drogas que hoje são ilícitas exatamente como se trata – melhor dizendo, como se deveria tratar – o uso de álcool e tabaco: campanhas públicas de esclarecimento e dissuasão; tributação pesada; proibição de venda a menores de idade; limitação dos horários e locais de consumo (como no caso dos cigarros); programas e recursos para tratamento de dependentes; penalização rigorosa dos que, sob efeito de drogas, causem danos a terceiras pessoas.
Acreditar que o problema se resolve endurecendo a legislação contra o tráfico, gastando grande parte do trabalho policial na “caça” ao varejo das drogas e enchendo as cadeias de jovens “aviões”, como ocorre atualmente, é outro equívoco da sociedade brasileira que precisa ser urgentemente revisto.
*Julita Lemgruber é socióloga e coordenadora do CESeC/Ucam
O GCCrim convoca a todos para esta discussão. Como deve ser encaminhada a questão da descriminalização das drogas, no Governo Dilma?
Assinar:
Postagens (Atom)