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Grupo de Pesquisa

domingo, 30 de janeiro de 2011

Heleieth Saffioti, presente




No dia 26 de janeiro, o Grupo Candango de Criminologia promoveu a Mesa de Debates "Heleieth Saffioti, presente", em homenagem à Heleieth Saffioti, Professora aposentada da Unesp/Araraquara e da PUC-SP.Compuseram a mesa as Professoras Ela Wiecko (FD/UnB), Lourdes Bandeira (Sociologia/UnB) e Lia Zanotta (Antropologia/UnB).

A Professora Ela iniciou a exposição, traçando um perfil da Professora Heleieth, que nasceu na cidade de Ibirá (SP), em 1934; formou-se em Ciências Sociais, na Universidade de São Paulo (USP), em 1960. Casou-se com um químico, Valdemar Saffioti, e desenvolveu suas atividades e pesquisas na cidade de Araraquara (SP). Valdemar faleceu em 1999 e Heleieth, então, doou o sítio em que viviam ("Chácara Sapucaia"), no qual foi criado um centro cultural. Uma curiosidade é que, nesta chácara, Mario de Andrade escreveu o célebre "Macunaíma", em 1928.

A obra de Heleieth Saffioti se tornou importantíssima para o movimento feminista brasileiro. Saffioti sustentava que o uso de conceito de gênero servia como forma de encobrimento de desigualdades entre homens e mulheres. O conceito de gênero escondia esta contraposição entre homens e mulheres, da dominação masculina.

Heleieth Saffioti recebeu diversos prêmios, dentre os quais "Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz" (2002), Florestan Fernandes (2003) e foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz (2005), no Projeto "Mil Mulheres". Em 2006, travou uma discussão sobre a descriminalização do aborto com o Procurador Cícero Horada. Foi demitida da PUC-SP pouco depois deste episódio.

A Professora Lourdes Bandeira, que conviveu bastante com Heleieth Saffioti, iniciou sua exposição contando que teve seu primeiro contato com suas obras e ideias em 1973, em um curso de Saffioti na UFRGS. O primeiro livro de Saffioti, "A mulher na sociedade de classes: mito e realidade" foi publicado em 1969, 20 anos depois de Simone de Beauvoir publicar "O Segundo Sexo". Saffioti teve acesso à versão em francês desta obra fundamental para o feminismo. A Professora Lourdes Bandeira ressalta este ponto, pois, nos anos 1970, o acesso a obras vanguardistas era muito difícil.

Pioneira, Saffioti criou o primeiro grupo de estudos sobre mulheres e gênero, em 1978. Saffioti estudava a divisão sexual do trabalho - os homens realizavam trabalho produtivo na esfera pública, com grande visibilidade, enquanto as mulheres ocupavam espaços de trabalho na esfera privada, sem nenhuma visibilidade. Começou a trabalhar, assim, as questões de gênero sob esta perspectiva do trabalho, pois, à época, não havia qualquer espaço para pesquisas sobre gênero. Para Saffioti, o movimento feminista e a luta de classes precisavam andar juntos.

Em 1989, cria, na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), o Grupo de Trabalho "Mulheres e Trabalho".

Saffioti foi a precursora da "teoria do nó", em que entendia que as categorias de classe social, gênero e etnia/raça se entrelaçam, gerando conflitos advindos do sistema patriarcal, produzindo uma sociedade com diferenças causadoras de múltiplas desigualdades. Assim, a dinâmica de cada categoria social se condiciona à uma nova realidade, presidida por uma lógica contraditória, que não pode ser analisada individualmente. Saffioti estuda, principalmente, o caso das trabalhadoras domésticas.

Saffioti contribuiu muito para o debate sobre a violência contra as mulheres, cobrando políticas públicas do Estado para combatê-la. Um termo muito utilizado em suas obras é "dominação-exploração". Saffioti entendia que dominação não seria maior do que exploração, ambas são importantes para produzir, na sociedade patriarcal, uma mulher restrita, oprimida, com muitas condições de sofrer violência.

Para conhecer um pouco mais da obra de Heleieth Saffioti, veja:
Cadernos Pagu - Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero


http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?isbn=8572443193&sid=21415224713130446202910425

http://mulherespaz.org.br/site/

Principais obras:
1. SAFFIOTI, H. I. B. . Gênero, patriarcado, violência. 1. ed. SÃO PAULO: EDITORA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 2004. v. 1. 151 p.
2.SAFFIOTI, H. I. B. ; ALMEIDA, S. S. . Violência de Gênero: Poder e Impotência. Rio de Janeiro: Revinter, 1995. v. 1. 217 p.
3. SAFFIOTI, H. I. B. ; MUNOZ-VARGAS, M. . Mulher Brasileira É Assim. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1994. 283 p.
4. SAFFIOTI, H. I. B. . O Poder do Macho. São Paulo: Moderna, 1987. 120 p.
5. SAFFIOTI, H. I. B. . Mulher Brasileira: Opressão e Exploração. Rio de Janeiro: Achiamé, 1984. 129 p.
6. SAFFIOTI, H. I. B. . O Fardo das Trabalhadoras Rurais. Araraquara: Instituto de Letras, Ciências Sociais e Educação - UNESP, 1983.
7. SAFFIOTI, H. I. B. . Do Artesanal ao Industrial: A Exploração da Mulher. São Paulo: Hucitec, 1981. 184 p.
8. SAFFIOTI, H. I. B. . Emprego Doméstico e Capitalismo II. Rio de Janeiro: Avenir, 1979. v. 55.
9. SAFFIOTI, H. I. B. . Emprego Doméstico e Capitalismo. Petrópolis: Vozes, 1978. 197 p.
10. SAFFIOTI, H. I. B. . Profissionalização Feminina: Professoras Primárias e Operárias. Araraquara: , 1969.
11. SAFFIOTI, H. I. B. . A Mulher na Sociedade de Classes: Mito e Realidade. Petrópolis: Vozes, 1969. 403 p.

Um comentário:

  1. A revista Lutas Sociais, n. 27 acaba de ser lançada. Está linda na forma e no conteúdo. Na forma, tem capa com imagem do graffiti do grupo de intervenção feminista "Maçãs Podres" com tema "Desate as correntes que te prendem". O conteúdo é dedicado à Heleieth Saffioti, socióloga feminista, conhecida por seu pioneirismo nos estudos sobre a mulher. Desde o início, desarranjou o esquema acadêmico, acentuadamente masculino, com uma proposta inusitada: investigar os estreitos laços que unem opressão feminina e modo de produção capitalista. Ousada, lançou mão de conceitos de Marx para compreender algo de fundamental que, para ela, o marxismo deixara obscuro: a imbricação classe-gênero na sociedade burguesa. Feminista, não titubeou em demonstrar que reduzir a luta das mulheres à reivindicação por direitos sociais não leva à emancipação feminina. Capitalismo e condições plenas de igualdade e liberdade são excludentes. A luta feminista ou será também de classes ou não será. A recíproca, para ela, também é verdadeira: a luta de classes não conduzirá à emancipação humana sem destruir, ao mesmo tempo, a opressão feminina.
    contato: rengon@terra.com.br

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